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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Peixe Grande


Os anos passam
Mas as memórias ficam
Com os mesmos temperos
Com paladares diferentes

Memórias são como luzes
Refletem a distância
E brilham como estrelas
Ficam eternamente
Formam as constelações, que são nossas vidas

(Igor Paez).

Hoje assisti a um filme que me encantou pela sutileza e destreza como foi feito, como uma cantiga da infância que permeia nossos anseio e fantasia.

Como você é?

Racional, simples com uma vida mais controlada ou é idealista, aventureiro, inspirador ou fantástico?

Ed Bloom, personagem do filme Peixe Grande (2003) escolheu a segunda opção. Ele tem um talento de entreter a todos com suas histórias fantásticas, cheias de criaturas bizarras e ricas de representação. No entanto, esta opção criou uma magoa em seu filho Will, fazendo-o distanciar do seu pai durante anos.

Will, só queria conhecer seu pai, que ele contasse como que realmente as coisas aconteceram, mas ao recebe a notícia de que seu pai está no hospital, Will viaja com sua esposa para tentar resolver toda essa mágoa e conhecer um pouco o homem que tanto ama, antes que não haja tempo. A história vai sendo narrada na busca de aproximação de Will com seu pai, enquanto suas belas histórias vão sendo contadas pelos personagens.

Tenho que concordar com Will as histórias contadas são inacreditáveis. Nelas participam lobisomem, um gigante, gêmeas siamesas e uma cidade quase perfeita em que todos andam descalços, sem dizer as histórias sobre como Ed perdeu o nascimento de Will e como encontrou o amor da sua vida, Sandra.

Contudo, Will vai descobrindo que a realidade pode ser muito diferente do que ele imaginava. De forma lúdica em que as histórias de Ed são descrita inspira a riqueza do filme, que emociona tanto pelas cenas e pelos diálogos. O filme é uma mistura de fantasia e realidade, mas com poucas certezas e definições. A vida impressionante e distraída do protagonista é retratada na tela de uma forma delicada e admirável, como ler um livro infantil contado para adultos. Um filme que emociona tanto pela beleza quanto pelas suas mensagens ocultas, e que espelham profundamente as coisas boas da vida e ruins.

Um belo filme como esse, só poderia trazer uma grande trama, um bom enredo.

A desidealização de um filho pelo pai é algo retratado tanto na literatura quanto no cinema, mas uma das coisa de mais me chamaram atenção foi perspicácia de Will descobrir seu pai, pois como um terapeuta ele buscou a origem dos “causos” de seu pai, me perguntava: o que motiva ele a buscar a verdade? Qual os ganhos dele? O que ele quer, a verdade ou seu pai?

Will como grande esperança de confiar novamente no seu herói, foi atrás de pistas, começou como um bom analista, da origem do pai, da infância de um homem que novo já sabia como iria morrer através do olho de uma bruxa, nada pode ser verdadeiro sem um saber que o constitui. Mesmos dizendo: Às vezes não faz sentido, e a maior parte nunca aconteceu de verdade”, Will continua sua peregrinação e a historia vai sendo narrada e retratando um pai aventureiro, sedutor, que na verdade busca a liberdade em todo custo, Ed como idealista indaga: “Então me ocorreu que talvez a razão para meu crescimento era que eu estava destinado a coisas maiores. Afinal, um gigante não pode ter uma vida comum.”

Sim, um gigante era como Will vera seu pai durante anos e ainda continuava, mas para se preservar preferiu se privar de seu pai por 3 anos. Com o passar da historia nosso antagonista vai vendo que os personagem são reais, mas não com o mesmo contraste. E como um analista vai compreendendo seu pai, descobrindo o porque condimentava sua historia com pitada de fantasia e magia.

Quando Edward está no hospital e com dificuldade de falar, Dr. Bennett o médico da família questiona se Will conhece versão verdadeira de seu nascimento, então Dr. Bennett conta de forma breve, como foi seu nascimento, sem qualquer enfeite e muito mesmo fantasia, seco. A partir daí Will compreende que a verdade não tem a mesma intensidade, ao menos não é tão maravilhoso como seu pai sempre contou. Com isso Will deixa a busca pela real verdade, e busca e afunda no mundo de seu pai, para lhe dar sua grande final. Assim, Will como um analista compreende o seu pai, entende que a única e verdadeira história que os dois passaram juntos, era tudo real: bruxas, gigantes e o peixe grande, pois: “Um homem conta suas histórias tantas vezes que se torna as histórias. Elas sobrevivem a ele. E desta forma, ele se torna imortal.”

sábado, 20 de agosto de 2011

PAI – Nunca ser Coadjuvante.

Pai!
Aproveitando a semana em que se comemorou o dia dos pais, porque não descrever a relevância deste papel?
Não falarei daquele pai que todos conhecem, de carne e osso, do senso comum, do pai real, vou mais além, vou relatar de um pai simbólico, aquele que tem uma representabilidade interna ao indivíduo, não que o pai real não tenha sua importância, mas quero mostrar outro sentido para o papel paternal.
Durante muito tempo foi atribuída à psicanálise a culpa `as mães por problemas e sintomas que os filhos desenvolvem, contudo o pai sempre teve papel de destaque na criação e na composição do individuo e sua presença é de grande importância.
O próprio pai da psicanálise Sigmund Freud tinha uma relação forte com seu pai, sendo visível em sua personalidade, muita idenficação paterna. Freud era o filho mais velho do segundo casamento de seu pai Jacob, quando nasceu seu pai tivera um neto, de um de seus dois filhos do primeiro matrimônio, todos vivendo na mesma casa. Quando Freud tinha 40 anos seu pai faleceu causando grandes conflitos a ele, este fato fez com que Freud revisse sua autoanálise, assim colaborando para elaboração da psicanálise através de alguns conteúdos com rivalidade entre pais, laços de amor, complexo de Édipo e entre outros.
O pai é indispensável para constituição e desenvolvimento saudável do sujeito, através de seu papel que há a incorporação de limites, a simbolização do mundo, e o desprender da mãe. O pai é a simbolização da lei, limites, valores. A paternidade é conceder que o indivíduo deixe o instinto natural e vá à cultura.
A atual sociedade tem como foco principal o imediatismo e os excessos, consumos de bebidas alcoólicas, drogas, jogos eletrônicos, sexo, festas. É uma amostra da contemporaneidade, e na qual é proibido coibir, e onde é visível a necessidade de marcar presença como forma de obter aprovação e prazer.
A incorporação da imagem do pai corresponde no momento da repressão da sexualidade a favor da cultura, do saber. É importante para a menina um olhar paterno, para que ela possa ter segurança em sua referência masculina podendo identificar-se com a mãe, e o menino busca através do pai construir uma identificação de gênero.
A função paterna independe de seu genitor, o verdadeiro pai apresenta com um operador simbólico, de forma a figura paterna pode ser executada por um representante que a criança escolher.
Logo, podemos compreender a diferença que há entre o pai real e o pai simbólico. É necessário que tenhamos um olhar perante a função paterna, pois este papel apresenta função crucial na estruturação psíquica do indivíduo.
E cabem a nós pais, reinventar a família buscando conformidades em novos contextos, devido a novas exigências atuais, fazendo assim, sujeitos amorosos e com conteúdos simbólicos internalizados.